sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Inquérito à população sobre o Ribatejo e a estremadura

Este inquérito foi realizado a 40 indivíduos da cidade de Tavira para testar os conhecimentos sobre a Estremadura e o Ribatejo, obtendo os seguintes resultados:



À pergunta “Diga o nome de uma cidade que pertence à região da Estremadura?”, apenas 38% responderam correctamente, Sintra.





À pergunta “ Qual o nome do rio que passa pela ponte Salgueiro de Maia?”, apenas 25% das pessoas responderam correctamente, Rio Tejo.






À pergunta “ Como se chama o castelo da Estremadura que tem telhado verde?”, apenas 60% das pessoas responderam correctamente, Castelo de Porto Mós. 





À pergunta “Qual a tradição mais antiga do Ribatejo?”, 70% das pessoas responderam correctamente, Tourada.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Estremadura

O nome de Estremadura deve-se ao fato de na reconquista ser a zona onde Estremavam os territórios 
submetidos a mouros e a cristãos. É uma região de terras férteis, devido à travessia do Rio Tejo, onde se produz fruta, legumes, cereais, tomates, azeite e vinho, tendo como principal caraterística as suas lezírias com a criação de cavalos e touros. Esta região possui uma grande concentração de indústrias hortícolas e atividades piscatórias. Esta região é rica em diversividade de paisagens que contrastam entre as suas praias e as suas serras.
A Estremadura abrange a área dos seguintes municípios incluídos nos distritos de: Leiria, Alcobaça, Alvaiázere, Ansião, Batalha, Bombarral, Caldas da Rainha, Marinha Grande, Nazaré, Óbidos, Peniche, Pombal e Porto de Mós.
Lisboa é a capital e a maior cidade de Portugal. Lisboa possui inúmeras atrações turísticas, e está localizada na margem direita do Rio Tejo, abrange a área dos seguintes municípios: Odivelas, Loures, Benavente,  Amadora, Alcochete, Oeiras, Almada, Seixal, Montijo, Moita, e Barreiro.
Lisboa é a cidade mais rica de Portugal, o porto de Lisboa é o mais activo da costa Atlântica Europeia. As indústrias principais consistem em refinarias de petróleo, indústrias têxteis, estaleiros, siderurgia e pesca.
É também uma cidade com uma vibrante vida cultural. Epicentro dos descobrimentos, desde o século XV a cidade é o ponto de encontro das mais diversas culturas.
A estremadura é também abrangida por alguns concelhos do distrito de Setúbal, tais como: Alcochete, Almada, Barreiro, Moita, Montijo, Palmela, Seixal, Sesimbra, Setúbal.
A cidade possui imensos bairros destacando o Bairro do Troino, as Fontainhas, o Bairro Santos Nicolau e a fonte nova, zonas onde viviam grande parte da comunidade de pescadores.
É conhecido por ser um importante centro industrial e por possuir o terceiro maior porto de Portugal.
Desde o castelo de São Filipe podem-se apreciar umas magnificas vistas da cidade de Setúbal.
No inverno as temperaturas são baixas e os verões muito quentes chegando aos 40º.
Alcochete é sede da Reserva Natural do Estuário do Tejo, possuindo várias salinas onde nidificam diversas espécies de aves aquáticas.
Acredita-se que Alcochete terá origem Árabe, principalmente devido a dois factos: A origem do nome Al caxete que poderá significar o forno e pela localização da Igreja Matriz, edificada no século XIV e que, segundo a tradição da época, foi construída sobre um templo árabe.
No entanto a primeira ocupação humana documentada refere-se à presença Romana, através de achados de um centro de olaria onde eram fabricadas ânforas e outros artefactos para acondicionamento e transporte de alimentos. À ocupação romana, sucedeu a ocupação árabe, sendo o topónimo o legado mais visível, desenvolvendo estes na região a agricultura: sistemas de rega por canais e citrinos.
A designação de Almada pensa-se que possa ser proveniente da palavra árabe المعدن (transliteração:al-ma'adan), «a mina», pelo motivo de que, aquando do domínio árabe da Península Ibérica, os árabes procediam à exploração do jazigo de ouro da Adiça, no termo do Concelho.

Por volta do século XIX, o concelho de Almada altera-se como consequência de vários tipos de indústria, nomeadamente na área da tecelagem, da indústria naval, moagem e cortiça. Devido à união de duas características como o sector industrial e a disposição geográfica da cidade, Almada tornou-se um ponto de fixação da população. A 4 de Outubro de 1910 desenvolve-se a antecipação da proclamação da república neste concelho. Sendo dos primeiros concelhos a destacar-se nesta afirmação política. Em finais dos anos 40 até início dos anos 70, há um aumento abrupto do fluxo migratório devido à procura de emprego e de habitação, criando grandes mudanças no concelho, e consequentemente afetando os transportes, urbanismo e vida sociocultural.
A cidade portuguesa de Barreiro teve origem numa «pobra» ou aldeia ribeirinha, repovoada após a reconquista, sob a égide dos Cavaleiros da Ordem de Santiago da Espada. A paróquia de Santa Cruz do Barreiro remonta aos séculos XIII-XIV, tendo sido comenda da Ordem de Santiago da Espada.
Desde então o Barreiro tornar-se-ia uma “moderna vila industrial e operária", transformando por completo o antigo aspecto da vila, tanto social, económica, como urbanisticamente, o Barreiro transfigurava-se. A malha urbana cresceria além dos limites do próprio concelho, até à vizinha Moita. Os vestígios deste passado são ainda hoje uma marca da cidade, através das Oficinas da CP, dos Bairros Operários, e em especial do ainda presente parque industrial-empresarial da Quimiparque (actual nome da antiga CUF e QUIMIGAL).
É sede de um pequeno município com 55,08 km² de área mas 66 029 habitantes (2011), subdividido em 6 freguesias. O município é limitado a norte e a leste pelo município do Montijo, a sueste por Palmela, a oeste pelo Barreiro e a noroeste tem uma estreita faixa ribeirinha no estuário do Tejo.
Montijo tem a sua história intimamente ligada ao Rio Tejo, pois grande parte da sua área geográfica é delimitada pelo mesmo. A presença humana fez-se sentir naquela região desde muito cedo (pelo menos desde o Paleolítico, segundo vestígios arqueológicos encontrados), devido, muito provavelmente, às excelentes condições naturais.
Em 1942 a cidade de Montijo beneficiou de profundas obras de "melhoramentos locais", nomeadamente com a instalação das redes públicas de abastecimento de água e luz eléctrica. Ao longo da década seguinte (1950) a cidade inaugurou o novo Palácio da Justiça (sede do Tribunal da Comarca de Montijo), a nova Estação dos CTT, o Hospital Distrital, o Mercado Municipal, o Cine-Teatro Joaquim de Almeida, o Estabelecimento Prisional de Montijo, a Praça de Touros Amadeu Augusto dos Santos (que substituiria a velha Praça de Touros construída em 1888), entre outros equipamentos. Inaugurou, também, dentro dos limites do concelho, a novíssima Colónia Agrícola de Pegões, aí instalada pela Junta de Colonização Interna e que viria a constituir, por desanexação de áreas pertencentes às freguesias de Canha e Marateca, a freguesia de Santo Isidro de Pegões.
A presença do Homem na região que hoje é ocupada pelo município de Palmela remonta ao Neolítico superior, onde a sua presença é bastante notada, sobretudo durante a cultura do campaniforme, e cujo testemunho nos foi deixado sob a forma do mundialmente conhecido Vaso de Palmela. Ocupada por celtas, romanos e árabes, todos encontraram neste território um lugar estratégico para se fixarem.
Foi no Seixal que os irmãos Vasco e Paulo da Gama construíram as embarcações para a viagem até à Índia. Enquanto Vasco da Gama estava em Lisboa a preparar a viagem, Paulo da Gama comandava os carpinteiros e calafates na construção das naus. Estêvão da Gama, pai dos navegadores, foi comendador do Seixal.
No início do século XVI, a população rondava as três dezenas de fogos e no dealbar do século XVIII, o número de habitantes ascendia a cerca de 400 pessoas. Actualmente, o Concelho tem 180 mil habitantes.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013


    Pastor – Minde – Estremadura

No essencial este traje identifica-se com os seus congéneres da região, mantendo alguns acessórios comuns a todos os pastores, como sucede com a manta, sempre de tecelagem caseira local e decorada nos tons naturais da lã. Também a saca da merenda, a cabaça com água-pé e porrete são indispensáveis para o trabalho atrás dos rebanhos. A zona de Minde era um importante centro de produção de mantas e também de tecidos para os hábitos dos frades, terá contribuído para o abastecimento de panos de lã às populações mais próximas. Por outro lado, a circulação destes produtos, nomeadamente das mantas, pelas feiras de todo o País, muito em particular no Alentejo, terá contribuído para influenciar o seu desenho característico, as mantas de riscas. Mas os contactos entre estas duas regiões, também traziam do Alentejo a lã que abastecia a insuficiente produção local. O pastor vestia camisa de riscado com cós, aberta sobre o peito. Colete de cotim cinzento-escuro, ajustado com botões. Calças do mesmo tecido, com bolsos metidos nas frentes, ajustadas com cinta preta. Na cabeça, barrete de lã da mesma cor e lenço tabaqueiro ao pescoço. Sobre o ombro, manta de riscas de Minde. Segura na mão a saca de retalhos onde transporta a merenda, a cabaça e o varapau. Calça botas de couro ensebadas.


Trajos Domingueiros Saloios – Estremadura





Aos domingos e dias de festa o povo gostava de se vestir com o que de melhor tinha, que não era muito, pelo que se reservava para esses dias um fatito melhor, que logo de seguida era cuidadosamente limpo e guardado, para que se não estragasse, pois só havia esse e pouco dinheiro para comprar ou fazer outro.
O trajo domingueiro masculino era composto por camisa branca em popelina, com peitilho em piquete, de manga comprida com punho, colete de fazenda preto sem bandas (as costas eram de fazenda aos quadrados de cor garrida), calça preta de cós alto com fivelas atrás, à boca-de-sino justo à bota e cinta preta. Jaqueta em fazenda preta com gola em veludo e alapares. Calçava botas de calfe preto. Usava barrete ou chapéu preto. Fazia-se acompanhar de um pau,
“não fosse o diabo tece-las …”.

A rapariga veste casaquinha com gola de gargantilha, abotoada à frente com botões e machos atrás, manga comprida com punhos pretos. Saia comprida de armar sobre o saiote e os colotes de pano branco decorado com rendas. Calça meia de algodão e sapatos de afanado com atacadores. Na cabeça, lenço de cachené. Os morgados eram pessoas de bens, abastados, viviam das terras que possuíam ou que arrendavam, portanto, podiam vestir um pouco melhor e exibir melhores adornos. A mulher usava um lenço branco de seda lavrada na cabeça, casaco preto em seda lavrada de gola e bandas, com machos atrás e punhos de veludo, a saia era comprida do mesmo tecido. Blusa de seda branca, com folhos no peito e punhos rendados. Como roupa interior, vestia saiote e colotes brancos com renda. Calça meias brancas de algodão e sapatos pretos de calfe. Transporta bolsa de veludo preto, para guardar alguns valores e xaile preto de merino franjado, para se proteger do frio.
O homem, veste calças de fazenda de fantasia, à boca-de-sino, colete de astracã preto, jaqueta do mesmo material, com gola de veludo preto e alapares de seda. Camisa branca em popelina com peitilho em nervuras. Ajusta a cintura com cinta de merino preta e na cabeça, chapéu preto de aba larga. Calça botas de cabedal preto. Usa relógio de bolso, com corrente de prata.

Lenda contada por Manuel Bernardes em "Nova Floresta".


Em 1171, Santarém foi cercada pelos muçulmanos. D. Afonso Henriques encontrava-se na vila. Apesar de já não poder montar a cavalo, quis ir combater. Para isso, mandou preparar um carro para o levar ao campo inimigo. Os seus companheiros tentaram dissuadi-lo, preocupados com a segurança do rei de Portugal. Mas este respondeu-lhes:
-"Se pela ventura alguns tiverem receio, o que não cuido, fiquem na Vila, e não vão lá, que eu não poderei sofrer tanta vergonha". E lá partiu para o campo de batalha. Como de costume lutou bravamente, causando muitos mortos no exército inimigo. Venceram os portugueses. Depois da batalha, o rei contou que vira, ao lado do seu braço direito, um outro braço armado e que terminava junto ao ombro com uma asa de cor púrpura. Este braço tinha-o ajudado na luta e tinha-o defendido dos golpes do inimigo. O rei concluiu que este braço pertencia ao seu anjo custódio ou ao arcanjo S. Miguel, visto que ele lhes tinha pedido auxílio antes de entrar na batalha. Muitos dos mouros que tinham também participado na batalha e que ficaram cativos, afirmaram terem visto o mesmo.


                        A Lenda do Castelo de Almourol

Durante a Idade Média, o Castelo de Almourol suscitou a criação de numerosas lendas, às quais não foram decerto alheias a beleza natural do lugar e a harmonia da construção. Uma delas é a de D. Ramiro, alcaide do Castelo de Almourol. Conta a lenda que, voltando cheio de sede de uma campanha guerreira, encontrou duas formosas mouras, mãe e filha, que traziam com elas uma bilha de água. D. Ramiro pediu à filha que lhe desse de beber. Esta, assustou-se e deixou cair a bilha. Enraivecido, D. Ramiro matou-as. Nesse momento apareceu um rapazinho de 11 anos, filho e irmão das assassinadas.

O cavaleiro logo ali o fez cativo e trouxe-o para o castelo. Quando chegou, o pequeno mouro jurou que se vingaria na mulher e na filha de D. Ramiro, duas damas muito belas. Tempos depois, a mulher do castelão definhou e acabou por morrer, vítima de venenos que o mouro lhe foi dando a pouco e pouco. Porém, não conseguiu matar Beatriz, a filha de D. Ramiro, porque os dois se apaixonaram. Um belo dia, D. Ramiro chegou ao Castelo na companhia de outro alcaide, a quem tinha prometido a mão de sua filha. Os jovens apaixonados, inconformados com a sorte que os esperava, fugiram sem deixar rasto. D. Ramiro morreu pouco depois, vitimado pelo desgosto. O castelo, abandonado, caiu em ruínas. Dizem que, nas noites de S. João, D. Beatriz e o mouro aparecem, abraçados, na torre grande do castelo. A seus pés, D. Ramiro implora perdão, mas o mouro inflexível responde-lhe com dureza:
- MALDIÇÃO!

sexta-feira, 25 de outubro de 2013


Lenda do Alfageme de Santarém


Ora aconteceu que, certo dia, D. Nuno Álvares Pereira, cavalgando de longe, veio parar à porta de Fernão Vaz.  A história tradicional do Alfageme de Santarém, que o povo conta de várias maneiras — mas sempre à sua maneira — foi conservada para a posteridade através da Crónica do Contestante, atribuída a Fernão Lopes, e deu origem, além de outros trabalhos novelísticos, poéticos e jornalísticos, ao bem conhecido drama teatral de Almeida Garrett, que se representou pela primeira vez em público no velho teatro da Rua dos Condes, em 1842.
Porém, para a evocação que vou fazer, mais do que nessas duas preciosas fontes, baseio-me na narrativa que dela ouvi, quando ainda menino, a um velho campino do Ribatejo. Foi essa a primeira vez que aos meus ouvidos chegou a história do Alfageme. E lá diz o povo, na sua terna sabedoria: «Não há amor como o primeiro…»·
Ele chamava-se Fernão Vaz e era considerado, pelos entendedores, o melhor alfageme das redondezas. Já seu pai fora também um grande artífice. À custa de muito trabalho e de alguns sacrifícios, Fernão Vaz juntara fortuna que lhe dava uma certa independência. E também uma certa soberba. Dizia-se até que fora por via dessa fortuna que com ele casara a jovem e linda Alda Gonçalves, a qual, em tempos, andara enamorada de D. Nuno Álvares Pereira.
D. Nuno saltou em terra e dirigiu-se ao homem que continuava a trabalhar, como que indiferente ao que se passava em seu redor.
— Eh, mestre alfageme!... Podeis corrigir-me esta espada?
O outro suspendeu o trabalho que tinha entre mãos. Olhou para D. Nuno. Olhou para a espada. E só então falou.
— Senhor, por hoje cheguei ao fim do meu trabalho... E bem preciso de descansar...
Olhou-o de novo e rematou com ênfase:
— Mas, enfim, como se trata de vós, ordenai. Farei o que desejardes.
D. Nuno Álvares Pereira sorriu.
— Obrigado, mestre alfageme... Disseram-me que ninguém possui habilidade igual à vossa...
No silêncio que se fez, olharam-se melhor. D. Nuno Álvares Pereira reparou então mais atentamente no homem que tinha diante de si.
— Céus, de onde conheço eu o vosso rosto?... Onde vi eu já esses vossos olhos... irónicos e indiscretos?
Fernão Vaz inclinou-se levemente, numa vénia.
— Senhor D. Nuno Álvares Pereira...
Novo espanto. Maior e mais profundo.
— Pois... conheceis-me?
Foi a vez do alfageme sorrir.
— E quem não vos conhece?
Depois, avançou um pouco e disse em tom pausado:
— Vou ajudar a vossa memória, senhor. Eu sou o marido de Alda Gonçalves... agora Dona Alda Vaz!
Seguiu-se uma pausa. Pausa feita de recordações. De alegres e tristes recordações. Quando voltou a falar, a voz de D. Nuno Álvares Pereira era menos firme.
— O quê? Sois vós?... Bem me lembro agora, afinal... Principalmente dos vossos olhos, irónicos e indiscretos...
Mudando o tom da voz, continuou, com aquela segurança de ânimo que lhe dava uma irresistível autoridade:
— Mas aqui vos deixo a espada, mestre alfageme... Quando a darão pronta?
O outro segurou a arma e mediu-a longamente com o olhar.
Longamente e abstractamente. Pensava decerto noutras coisas. Mas a sua voz soou igualmente segura, como quem acaba de tomar uma grande resolução.
— Amanhã de manhã podereis vir buscá-la, senhor D. Nuno… Não me deitarei sem que a deixe corrigida e afiada, como desejais!
D. Nuno sorriu cortesmente.
— Obrigado, mestre... Até amanhã!·
Tal como prometera, Fernão Vaz passou a noite inteira trabalhar a espada de D. Nuno Álvares Pereira. Era já manhãzinha quando recolheu aos seus aposentos. Apesar de todas as recomendações, Alda ainda estava desperta.
— Só agora, Fernão Vaz?
Ele estacou à porta do quarto ao escutar aquela voz doce mas autoritária. E foi ainda dominado pela surpresa que balbuciou uma pergunta:
— Pois não dormistes?... Ficastes toda a noite à minha espera?
Um sorriso bonito e amoroso envolveu a resposta.
— Sim, meu bom marido... Eu poderia lá adormecer sem a vossa companhia!...
E, num ar de ternura, acrescentou entre dois breves suspiros:
— Sozinha, tive tanto susto, senhor meu marido! Felizmente, ouvia-vos a trabalhar na oficina...
Suspendeu-se um momento. E, num reflexo de curiosidade recalcada, acabou por perguntar:
— Mas, afinal, que trabalho foi esse que vos fez esquecer a vossa mulher?
Fernão Vaz olhou-a, sorrindo. Sorriso com mistura de carinho e de altivez.
— Sabeis lá!... Estive a afiar e a corrigir uma espada... para quem talvez não o devesse fazer...
Ela soergueu-se do leito. Intrigada. Desconfiada. Perplexa.
— Que tamanho segredo é esse, senhor meu marido?... De quem se trata?
Fernão Vaz fitou-a bem de frente.
— Pois escutai, senhora... Estive a trabalhar... para D. Nuno Álvares Pereira!
Ela não pôde disfarçar o choque. A sua voz tornou-se nervosa e trémula.
— Como? Que dizeis?... D. Nuno esteve aqui?... E que vos desejava ele?
O sorriso do marido alargou-se, estendeu-se, acentuou-se, deixando-a mais tranquilizada.
— Já vos disse... Estive a corrigir e a afiar a sua espada.
Um suspiro escapou-se dos lábios de Alda Vaz.
— Oh, meu Deus!
O marido inclinou-se imediatamente para ela, ávido de revelações.
— Vedes?... Vedes como ainda gostais dele?... Eu sempre temi este momento!
As mãos dele caíram, num desânimo sincero, ao longo do corpo.
— O vosso coração não me pertence!
Mas logo as mãos dela correram a segurar as mãos do marido, apertando-as, puxando-as para si, aquecendo-as com amor.
— Calai-vos, senhor meu marido!... Não deveis dizer tontices... O meu coração é vosso, desde que casei convosco...
Ele ainda quis aproveitar, para insistir na sua suspeita de ciúmes.
— Mas ficastes impressionadas, confessai!
Alda Vaz riu-se. Riso meigo, tranquilizador.
— Ora, apenas porque receei por vós... Às vezes, acreditai, o despeito transtorna os mais sensatos...
O tom da sua voz adquiriu ainda maior sinceridade.
— E embora eu confie plenamente na nobreza de sentimentos de D. Nuno, tive medo, muito medo!
Suspirou profundamente, sentidamente, e rematou:
— Felizmente que ele veio por bem!
Fernão Vaz endireitou-se, numa postura altiva.
— Eu disse-lhe que era vosso marido!
Por instantes, a curiosidade bailou no olhar alvoroçado de Alda Vaz.
— E ele?... Que disse ele?
A resposta veio com um sorriso. Sorriso tocado de ironia.
— Nada disse, senhora!... Nem sequer perguntou por vós...
Alda Vaz pestanejou. Nem pareceu reparar na ironia do sorriso. Limitou-se a concluir, em voz baixa e despida de emoção:
— Já me esqueceu, decerto... como eu também já o esqueci...
Depois estendeu as mãos ao marido, num gesto de carinhosa chamada.
— Sinto-me feliz, tal como sou!
Ele ajoelhou junto do leito e beijou-lhe as mãos. Suavemente. Amorosamente.
— Como vos adoro, senhora!... Hoje mais que nunca!·
Na manhã seguinte, conforme ficara combinado, D. Nuno Álvares Pereira veio à oficina logo ao romper do sol. O alfageme já o esperava. Mal o viu, correu para ele.
— Aqui tendes a vossa espada, senhor.
D. Nuno Álvares Pereira examinou-a atentamente, como um conhecedor. E o seu rosto reflectiu alegria e satisfação.
— Belo trabalho, mestre alfageme... Está perfeitíssima!
Voltou-se então para trás, gritando a um dos seus acompanhantes.
— Eh, escudeiro, pagai ao mestre alfageme o que ele vos pedir!
Mas Fernão Vaz, nessa altura, adiantou-se um pouco e interpôs-se entre ambos.
— Perdão, senhor D. Nuno... Se mo permitem, eu por ora não quero de vós nenhum pago.
O outro olhou-o. Surpreendido. Desconfiado. E gritou:
— Mas porquê?... Estais louco, decerto!
Sem alterar a voz, o alfageme confirmou:
— É o que vos digo, senhor... Nada quer receber.
E emoldurando então as suas palavras firmes num sorriso de confiança, acentuou:
— Ide embora, que em breve voltareis conde de Ourém... E então me pagareis o que eu merecer, senhor conde!
O semblante de D. Nuno desanuviou-se um pouco. Um breve sorriso nasceu ao canto dos lábios.
— Não me chameis conde, porque eu não o sou, mestre alfageme...
A sua voz tornou-se menos dura e autoritária.
— Deixai que vos paguem tudo o que quiserdes...
Fernão Vaz cruzou os braços numa obstinada recusa.
— Não é preciso, senhor... Eu só vos disse a verdade... E assim será cedo, se Deus quiser!

E Deus quis, na verdade, que a profecia do alfageme de Santarém depressa se realizasse. Mercê dos seus feitos de valentia e de heroísmo, fazendo frente a inimigos muito superiores em número e vencendo-os sem remissa, D. Nuno Álvares Pereira foi agraciado por el-rei D. João I com o honroso título de conde de Ourém.

Entretanto, em redor da vida de Fernão Vaz, o alfageme de Santarém, tinham-se amontoado muitas nuvens de tormenta, que ameaçava desencadear-se com terríveis consequências. De facto, invejas e intrigas minavam o prestígio de Fernão Vaz, até que os seus inimigos pessoais, arrastados pelo despeito e pela maldade, resolveram acusá-lo publicamente como traidor à Pátria.
Fernão Vaz sentiu-se desamparado. O cerco apertava-se cada vez mais. Os fregueses desapareceram, apavorados. E ele acabou por ser preso, vergado às infames acusações que lhe faziam.
Triste, desesperada, Dona Alda Vaz chorou a sua dor. A sua dor e o seu protesto.
— É falso! É mentira! Meu marido está inocente, mil vezes inocente! São os outros que nos querem mal, porque somos ricos e felizes... Socorrei-nos, meu Deus! Valei-nos!... Livrai meu marido da forca!
Mas de nada serviam as palavras e as lágrimas de Dona Alda Vaz. O alfageme de Santarém continuou preso e os seus bens foram totalmente confiscados. Vinha próxima a hora da morte!

Como último recurso, não vendo qualquer outra possibilidade, a jovem esposa decidiu procurar pessoalmente D. Nuno Álvares Pereira, o novo conde de Ourém.
Ele não a fez esperar. Mas quedou-se boquiaberto, quando a viu surgir na sua frente.
— Senhora! Vós aqui... e nesse estado? Por Deus!... Porque chorais, senhora?... Que vos aconteceu?
Entre duas novas crises de lágrimas que a faziam tremer, Dona Alda Vaz conseguiu explicar.
— Senhor D. Nuno, sabei que prenderam meu marido... Imaginai senhor! Acusam-no de traidor!
Parou, já sem fôlego. Exausta. Deprimida. Prestes a desmaiar. Porém, num novo impulso de coragem e de revolta, ainda soluçou baixinho:
— Sim, acusam-no de traidor… mas ele está inocente!... Absolutamente inocente!
E como que a lembrar-se do passado, ergueu para D. Nuno os lindos olhos inundados de lágrimas.
— Senhor... ainda acredita em mim?
Um suspiro incontido saltou do peito de D. Nuno Álvares Pereira e escapou-se-lhe por entre os lábios.
— Ainda acredito em vós, sim!...
Semicerrou os olhos e as suas mãos cruzaram-se.
— Houve tempo em que talvez não acreditasse... Foi muito forte a desilusão de amor que me fizestes sofrer...
Ela baixou a cabeça. Como que vencida. Mais do que vencida, humilhada. Expiando a sua própria culpa.
— Senhor... por tudo vos peço que esqueçais esses tempos!...
Ele amparou-a docemente, obrigando-a a sentar-se. Depois sentou também diante dela e falou calmamente.
— Bem sei, Dona Alda Vaz... Tendes medo que o despeito me domine o coração, não é verdade?...
A voz tornou-se mais austera.
— Descansai!... Eu não posso nem devo olvidar que a profecia do vosso marido saiu certa... Infalivelmente certa!... Hoje sou conde Ourém, tal como ele me disse certo dia, em que eu não sonhava ainda sequer com esse título...
Levantou-se, deu alguns passos e voltou a parar em frente da desolada e lacrimejante Dona Alda Vaz. Depois sorriu, a acompanhar qualquer reflexão que lhe vinha do íntimo.
— Tem graça, Dona Alda Vaz... Lembro-me agora que vosso marido me disse também, nessa altura, que depois de eu ser conde de Ourém lhe pagaria o trabalho, conforme ele merecesse...
A sua voz soou como um clarim de combate.
— Pois muito bem: vou pagar-lhe!
A medo, tremendo mais, D. Alda Vaz perguntou:
— Senhor! Que ides fazer?... Matá-lo?
Sorrindo de novo, com ar resoluto e voluntarioso, ele respondeu apenas:
— Não. Vou salvá-lo!
Foi fácil a D. Nuno Álvares Pereira conseguir o seu intento. Tendo narrado tudo a D. João I, depressa ele conseguiu o perdão real para Fernão Vaz. E, montando o seu corcel mais ligeiro, meteu-se velozmente a caminho, chegando bem a tempo de salvar da forca o alfageme de Santarém, que mal podia acreditar em tamanha felicidade.
Mas D. Nuno Álvares Pereira foi ainda mais além. Juntou Fernão Vaz e sua esposa num abraço de amor, dizendo:
— Assim se cumpriu a vossa profecia, mestre alfageme!
Fernão Vaz soltou um suspiro, fantasma de atroz recordação.
— É verdade, senhor... Já é conde e afinal pagastes muito melhor do que eu esperava!...
Então, D. Nuno Álvares Pereira avançou para ele. O seu semblante tornou-se mais sério.
— E agora sabeis que mais, Fernão Vaz?... Quero também armar-vos cavaleiro, para vos compensar das injustiças que vos foram feitas!
Surpreendido, o alfageme fitou D. Nuno bem de frente. A sua testa salpicou-se de reflexões. E concluiu, abanando a cabeça lentamente:
— Não, senhor D. Nuno, não pode aceitar a honra que me ofereceis. Vós sois um honrado e digno fidalgo... Não deveis descer de onde chegastes... Eu sou filho de alfageme, de um alfageme que sempre colocou o seu carácter acima de todas as coisas da vida... Por isso, D. Nuno, eu não quero subir, porque também não quero descer...
Por momentos quedaram-se em silêncio. Por fim, D. Nuno concordou.
— Aprovo as vossas palavras, embora elas contrariem um desejo que me seria muito grato. Já que nada mais pode fazer, desejo-vos muitas felicidades, para vós e para vossa esposa.
O mesmo sorriso de sempre abriu-se no rosto de Fernão Vaz.
— Obrigado, senhor... Eu bem sabia que podíamos confiar em vós!
Do alto da sua montada, D. Nuno Álvares Pereira ergueu o braço, num gesto de saudação.
— Ide, amigos!... Ide, e que Deus vos proteja!
Com um último adeus, mas sem dizer mais palavra, o alfageme e sua mulher seguiram de abalada, caminho de Santarém.
D. Nuno ficou afagando a sua espada de combate. O amor abalava para sempre da vida do herói. Mas ficava a espada que daí em diante seria a sua companheira e a sua dama!

Glossário Ribatejano

A
Abaléu – abalou; ex.: O meu homem já abaléu - O meu marido já abalou
Abelhudo - curioso/atrevido; ex.: és muito abelhudo – és muito curioso
Abrólio - que fala muito ; ex.: és um abrólio – és um falador
Acarta – carrega; ex.: Vai acartar as batatas - Vai carregar as batatas
À cata - à procura; ex.: andas à cata – andas à procura
Achadiço – esquisito; ex.: estás achadiço – estás esquisito
Ade – há-de; ex.: Ade ser um espertel - Há-de ser muito esperto
Afonicar – estragar; ex.: este leite afonicou – este leite estragou
Afunda – fisga; ex.: quero uma afunda – quero uma fisga
Agaçar – atiçar; ex.: vou agaçar – vou atiçar
Agancha - arame/conduzir um arco; ex.: dá-me uma agancha – dá-me um arame
Agarimar – proteger; ex.: vou agarimar - vou proteger
Aiche - pequeno ferimento; ex.: tens um aiche - tens um ferimento
Airoso – simpático; ex.: É todo airoso - É todo simpático
Alacrário – lacrau; ex.: és um alacrário - és um lacrau
Alqueiro –barrigudo; ex.: Um barriga de alqueiro - Uma pessoa barriguda
Aljabardado - mal feito; ex.: és muito aljabardado - és mal feito
Altarrão - muito alto (rapaz); ex.: és altarrão - és muito alto
Altarrona - muito alta (rapariga); ex.: és altarrona- és muito alta
Alvadiço – atiradiço; ex.: sou alvadiço - sou atiradiço
Alveirada - deixou de chover; ex.: deixou de alveirar - deixou de chover
Amerzundado - instalado/não fazer nada; ex.: vou-me amerzundar - vou-me instalar
Amolancar – estragar; ex.: não vou amolancar - não vou estragar
Amorcegado – ensonado; ex.: estou amorcegado - estou ensonado
Amulagado – amolgado; ex.: o carro está amulagado – o carro está amolgado
Anafiar - arranjar-se/vestir bem; ex.: vai anafiar – vai arranjar-se
Ancho(a) – vaidoso; ex.: Está muito ancha - Está muito vaidosa/satisfeita
Andrilhas - carregar(pessoas)ombros; ex.: vou andrilhar - vou carregar
Ao calhas - qualquer maneira; ex.: põe ao calhas – põe de qualquer maneira
Apilarado - bem trajado; ex.: Está todo apilarado - Está todo bem trajado
Apoquento – aflijo; ex.: é um apoquento - é um aflijo
Aqueitar – abrigar; ex.: Anda aqui aqueitar-te - Anda aqui abrigar-te
Arangar - a dizer/resmungar; ex.: O que está arangar - O que está a dizer
Arreliado – zangado; ex.: estou arreliado - estou zangado
Arremedar – imitar; ex.: está a arremedar - está a imitar
Arremelgado - com sono; ex.: estou arremelgado - estou com sono
Arrenegar – aborrecer; ex.: vou-te arrenegar - vou-te aborrecer
Arriaga - mal vestido; ex.: está arriaga - está mal vestida
Assorriar - fazer troça; ex.: vou assorriar - vou fazer  troça
Atão – então; ex.: atão compadre - então compadre
Atinor - à sorte; ex.: é atinor - é á sorte
Atizanar – enervar; ex.: Andas-me sempre atizanar - Andas-me sempre a enervar
Atoleimado – tolo; ex.: está atoleimado - está tolo
Atramoucado - bruto/doido; ex.: és uma atramoucada – és uma bruta
Atroado – louco; ex.: estou atroado - estou louco
Aturo – aguento; ex.: não te aturo - não te aguento
Augada – chuvada; ex.: está uma augada – está uma chuvada
Augado - triste, insatisfeito; ex.: estou augado - estou triste  ou insatisfeito
Augua – água; ex.: quero augua - quero água
Aventar - deitar fora; ex.: vou aventar - vou deitar fora
Aversas - ao contrário; ex.: estás ás aversas - está ao contrário
Avezada – habituada; ex.: está mal avezada - está mal abituada

B
Bácaro – porco; ex.: seu bácaro - seu porco
Baceira – gorda; ex.: és muito baceira – és muito gorda
Bachicar - molhar com água; ex.: vou bachicar… - vou molhar com água
Badalhoco - muito sujo; ex.: tas badalhoco - tás muito sujo
Baieta – barbeiro; ex.: es baieta - és barbeiro
Bailique - construção abarracada; ex.:esta casa tem uma construção bailique – esta casa tem uma construção abarracada
Balcão - escadaria de pedra; ex.:este bar tem balcão - este bar tem balcão
Banquinha - mesinha de cabeceira; ex.:o meu quarto tem banquinha – o meu quarto tem mesinha de cabeceira
Baraço - corda fina; ex.: da-me esse baraço - dá-me uma corda fina
Barandão – malandro; ex.: es mesmo barandão - és mesmo malandro
Barduça – nevoeiro; ex.: ta cá uma barduça - tá cá um nevoeiro
Barrela - limpeza completa; ex.: vamos fazer uma barrela - vamos fazer uma limpeza completa
Barriga de alqueiro – barrigudo; ex.: tens barriga de alqueiro - és barrigudo
Barromão – vadio; ex.: és cá um barromão - és cá um vadio
Barrunceira – barreira; ex.: está ali uma barrunceira – está ali uma barreira
Basto – espesso; ex.: este molho está basto - este molho está espesso
Bate-cú - cair de cu; ex.: Deu cá um bate-cu - Caiu de cu no chão
Bátega – chuvada; ex.: vem ai uma bátega - vem aí uma chuvada
Bedelho - pequeno "um centavo"; ex.: tu és bedelho - tu és pequeno
Beijinhas - vagens/feijão verde; ex.: esta sopa tem beijinhas - esta sopa tem vagens
Beirito - um pouco (liquido); ex.: este batido está um pouco beirito - este batido está liquido
Beirolar - chuver pouco; ex.: hoje vai beilorar - hoje vai chuver pouco
Berreiro - chorar muito; ex.: este rapazinho está cá com um berreiro – este rapazinho chora muito
Bichos carpinteiros - não parar quieto; ex.: tens bicho carpinteiro – não paras quieto
Bico d´obra - coisa difícil; ex.: tá cá um bico d`obra - tá difícil
Biscalhito - pedaço muito pequeno; ex.: dá cá um biscalhito de melão - dá cá um pedaço de melão
Biscalho - pedaço pequeno; ex.: dá-me um biscalho - dá-me um pedaço pequeno
Biscórdia - pessoa interceira; ex.: és uma biscórdia - és uma intereceira
Bocana - chorar muito alto; ex.: bébé bocana - bébé que chora alto
Bolsa - pessoa baixa e gorda; ex.: pessoa bolsa - pessoa baixa e gorda
Bonrar - faltar à palavra; ex.: não és de bonrar - não és de faltar á palavra
Borda - local menos fundo num poço; ex.: procura uma borda – procura um local menos fundo
Borleca – porca; ex.: uma borleca – uma porca
Borna – morna; ex.: água borna - água morna
Borrar – sujar; ex.: vou borrar - vou sujar
Borrega - ferimento com pus; ex.: tenho uma borrega - tenho um ferimento com pus
Bosta - excremento de vaca; ex.: este campo tem bosta - este campo tem excremento de vaca
Bostela - crosta de ferida; ex.: ficas-te com uma bostela - ficás-te com uma crosta
Bota – deita; ex.: Bota fora - Deita fora
Boga.-.interessa; ex.: Que boga - Que interessa
Botelha – abóbora; ex.: quero uma botelha – quero uma abobora
Braveira - chorar muito (feroz); ex.: és muito braveira - és muito feroz
Breter – derramar; ex.: está a breter – está a derramar
Briol – frio; ex.: está um briol – está um frio
Broca – mentira; ex.: isto é uma broca – isto é mentira
Broxa - prego pequeno ; ex.: quero uma broxa – quero um prego pequeno
Brutamontes - mal feito; ex.: és um brutamontes – és um mal feito
Bugia - fogão de ferro/aquecimento; ex.: fiz numa bugia – fiz num fogão de ferro
Bugiar - vai passear; ex.: vai bugiar - Vai passear
Burra - taleiga de dinheiro; ex.: tenho uma burra – tenho uma taleiga de dinheiro
Burrega – bolha; ex.: tenho uma burrega no pé – tenho uma bolha no pé
Busineira - vento forte; ex.: foi a busineira – foi o vento forte

C
Cacarécos - apetrechos/móveis/casa; ex.: vou comprar cacarécos – vou comprar móveis
Cagalhoeiro - não guarda segredos; ex.: és cagalhoeiro - não guarda segredo
Caganátias - excremento/coelhos/ratos; ex.: na coelhera á caganáticas de rato – na coelheira á excremento de rato
Caganeira – diarreia; ex.: o meu filho está com caganeira – o meu filho está com diarreia
Cagueiro - cu grande; ex.: as brasileiras tem um cagueiro – as brasileiras tem um cu grande
Calcamunhas – palerma; ex.: pareces um calcamunhas - pareces um palerma
Calhandro - bisbilhoteiro/mal dizer; ex.: és um calhandro - és um bisbilhoteiro
Calhandrona - bisbilhoteira/má; ex.: és muito calhandrona- és muito má
Calhão - parte mais funda dum poço
Calhau - pedra grande; ex.: olha aquele calhau - olha aquela pedra grande
Calhoada – pedrada; ex.: levas uma calhoada - levas uma pedrada
Calhorras/Feijocas - feijão grande; ex.: que grande calhorras - que feijão grande
Camangulão - vadio/vagabundo; ex.: Oh seu camangulão - Oh seu vadio
Cambado – baldio; ex.: este cão está cambado - este cão está baldio
Caminete – camioneta; ex.: não apanhei a caminete - não apanhei a camionete
Cança - asma/bronquite; ex.: ele sofre de cansa - ele sofre de asma
Cancha - dar um passo largo; ex.: esta noite vou canchar - esta noite vou dar um passo de dança
Canudo - Bolas/termo de irritação; ex.: hoje estou canudo - hoje estou irritado
Carvalhó - queda/cambalhota; ex.: vamos dar uma carvalho - vamos dar uma cambalhota
Casquilho - objectos plasticados; ex.: gosto destes casquilhos - gosto destes objectos plastificados
Catancho – catrino; ex.: ele é catancho - ele é catrino
Catrapiscar – espreitar; ex.: Anda por aí a catrapiscar - Anda por aí a espreitar
Chafardana - viatura/velha; ex.: esta viatura está chafardana - esta viatura está velha
Chaleira – cafeteira; ex.: o café está na chaleira - o café está na cafeteira
Chapinhar - bater na água; ex.: o bebé gosta de chapinhar na água - o bebé gosta de bater na água
Chastar – deixa estar; ex.: eu vou deixar isto chastar - eu vou deixar estar
Cheirete - mau cheiro; ex.: detesto este cheirete - detesto este mau cheiro
Cheiriça – chouriço; ex.: Esta cheiriça é muito boa - Esta chouriça é muito boa
Cheiroso – namorisqueiro; ex.: este rapaz é cheiroso - este rapaz e namorisqueiro
Chícharos - feijão frade; ex.: estes chícharos estão bons - este feijão frade esta bom
Chicória - Bica (café); ex.: vamos tomar uma chicória - vamos tomar um café
Chiqueirada – lixeira; ex.: isto parece uma chiqueirada  - isto parece uma lixeira
Chiqueiro – lixo; ex.: isto está um chiqueiro - isto está um lixo
Chisneira – aragem; ex.: esta chisneira está fresquinha -  esta aragem está fresquinha
Chusma - muito/montão; ex.: tenho uma chusma de roupa -  tenho um montão de roupa
Beirolar  – chuviscar; ex.: hoje beirolou -  hoje chuviscou
Codito - pequeno pedaço de pão; ex.: quero um codito - quero um pedaço de pão
Coirão – ordinária; ex.: esta mulher é um coirão -  esta mulher é uma ordinária
Combaro - muro/courela; ex .: A vaca esfeijoou-se do cômbaro  - A vaca caiu do combro
Compinchas - más companheiras; ex.: que má compincha que és -  que má companheira que és
Corada - branquear ao sol/roupa; ex.: a roupa esta a corar - a roupa está a branquear ao sol
Corrilório - sempre andar/atarefado; ex.: este homem está sempre corrilório - este homem está sempre atarefado
Cramunha - fazer barulho; ex.: esta turma está só a cramunhar - esta turma está só a fazer barulho
Crolório – feitio; ex.: Tens cá um crolório - Tens cá um feitio
Cruzeta - cabide móvel; ex.: põe a camisa na cruzeta - põe a camisa no cabide móvel
Cueiros - fraldas de pano; ex.: o bebé usa cueiro - o bebé usa fraldas de pano
Curgimão - pessoa indesejável; ex.: és um curgimão – és uma pessoa indesejável
Cusapeiro - rabo/cu grande; ex.: tens um cusapeiro – tens um cu grande
Cuspinho – saliva; ex.: não  engulo cuspinho – não  engulo saliva

D
Debruçar - virar um objecto; ex.: vou debruçar – vou virar um objecto
Degredo - problema/complicação; ex.: É um degredo para ele comer - É um problema para ele comer
Deido (a) - doido (a; ex.: É uma deida - É uma doida
Derramado – chatiado; ex.: estou derramado – estou chatiado
Derrancado – zangado; ex.: estás derrancado – estás zangado
Desancar - palmadas no cu; ex.: vou te desancar – vou-te dar palmadas no cu
Desavergonhado – mau; ex.: és desavergonhado – és mau
Desobrigar - confessar (Quaresma); ex.: Vai à desobriga - Vai confessar-te (Quaresma)
Despertina - esperta (sem sono); ex.: estou despertina – estou sem sono
Destrambulhado - sem juízo; ex.: és destrambulhado – não tens juízo
Desvão – sótão; ex.: tenho um desvão em casa – tenho um sótão em casa
Dinqueiro – nu; ex.: estás dinqueiro – estás nu

E
Eixo - Jogo crianças; ex.: quero um eixo – quero um jogo de crianças
Eléctrico - fezes nos regos água; ex.: estão eléctricos na água – estão fezes na água
Em nenhures – nenhum; ex.: não vais a nenhures lugar – não vais a nenhum lugar
Embarricar - jogar p´ra sitios difíceis; ex.: não vou embarricar - não vou jogar para sítios díficeis
Emgadelha - sem chapéu; ex.: não vais sem emgadelha - não vais sem chapéu
Encagaitado - bem vestido; ex.: estás encagaitado - estás bem vestido
Enchixarrado – vaidoso; ex.: és muito enchixarrado - és muito vaidoso
Encrenca - que arranja problemas; ex.: só encrenca - só arranjas problemas
Enfadado – cansado; ex.: ando enfadado - ando cansado
Engalinhado - cheio de frio; ex.: estou engalinhado - estou cheio de frio
Enlazeirado - cheio de frio; ex.: fiquei enlazeirado – fiquei cheio de frio
Ensertado – aberto; ex.: está ensertado - está aberto
Esbaguchados - frutos rebentados; ex.: estes frutos estão esbaguchados - estes frutos estão rebentados
Esbarroncar - queda dum muro; ex.: ele esbarroncou – ele caiu dum muro
Esbijar - esticar/tecido; ex.: vou esbijar o tecido - vou esticar o tecido
Esborralhar – desmanchar; ex.: vai-se esborralhar - vai-se desmanchar
Esbreicelada - loiça partida/esmurrada; ex.: esta loiça está esbreicelada - esta loiça está partida
Esbrinçar - partir loiça; ex.: vais esbrinçar - vais partir loiça
Escairado - inflamado (nariz); ex.: Está com o nariz escairado - Está com o nariz inflamado
Escaleira - escadaria/balcão; ex.: este escaleiro está sujo - este balcão está sujo
Escarrolada - bem lavada/roupa; ex.: quero o chão bem escarrolado - quero o chão bem lavado
Escurrupichar - Beber o resto; ex.: não vais escurrupichar- não vais beber o resto
Esfeijoar - queda aparatosa; ex.: A vaca esfeijoou-se do cômbaro - A vaca caiu do combro
Esgaziado - conduzir depressa; ex.: tu costumas esgaziar depressa - tu conduzes depressa
Esguelha - de lado; ex.: tu estás de esguelha – tu estás de lado
Esmoer - fazer a digestão; ex.: estou a esmoer -  estou a fazer a digestão
Espertel - esperto (a); ex.: Há-de ser um espertel - Há-de ser muito esperto
Esprugar - descascar/batatas; ex.: estou a esprugar batatas  - estou a descascar batatas
Esqueixada - côdea da broa levantada; ex.: esta côdea de broa está esqueixada - esta côdea de broa está levantada
Esterlicada - muito magra; ex.: estás muito esterlicada - estás muito magra
Estiado - parou de chover; ex.: parou de estiado - parou de chover
Estrotegar - torcer o pé; ex.: vais estrotegar o pé - vais trocer o pé
Estrumeira - local/colocar estrume; ex.: vou por estrumeira - vou colocar estrume
Esturricada - queimada/torrada; ex.: esta torrada está esturricada- esta torrada está queimada

F
Fariseu – mau; ex.: és muito fariseu - és muito mau
Farregodilhas - traquino/mexido; ex.: o teu filho é muito farregodilhas - o teu filho é muito traquino
Farrumbam – arrogante; ex.: a colega é muito farrumbam – a colega é muito arrogante
Fedelho - traquino/ pequeno; ex.: és fedelho - és pequeno
Fedor - mau cheiro; ex.: que fedor – que mau cheiro
Fedúncio – reles; ex.: é muito fedúncio - é muito reles
Fervedor - vasilha do leite; ex.: aquece o leite no fervedor - aquece o leite na vasilha do leite
Fervelo – impaciente; ex.: estou muito fervelo - estou muito impaciente
Flexo – traque; ex.: deste um flexo – deste um traque
Forcalhas – fintas; ex.: Faço cada forcalha - Faço cada finta
Fuderices – bisbolhetices; ex.: é só fuderices - é só bisbolhetices
Funfar – choramingar; ex.: estás a funfar - estás a choramingar
Furda - loja do porco; ex.: é uma furda - é uma loja de porco

G
Gadelha - cabelo grande/despenteado; ex.: tas com uma gadelha - estás com o cabelo despendeado
Galheta – rasteira; ex.: isto é uma galheta - isto é uma rasteira
Galho – ramo; ex.: quero um galho de flores – quero um ramo de flores
Garnacha – aguardente; ex.: esta garnacha está forte - esta aguardente esta forte
Girigota - dum lado para outro; ex.: andas só na girigota - andas só dum lado para o outro
Girom - vai embora; ex.: vai-te girom - vai-te embora
Gosma – interesseiro; ex.: és uma gosma - és um interesseiro
Grolda - falar muito; ex.: andas a groldar muito - andas a falar muito
Guieira - vento frio; ex.: está uma guieira - está um vento frio
Guimpar - gemer/sofrimento; ex.: guimpei toda a noite - gemi toda a noite

H
Hirejo – ateu; ex.: és um hirejo - és um ateu

I
Inda -ainda; ex.: Inda agora por aqui passéu - Ainda agora por aqui passou
Imonado – entufado; ex.: o frango está imonado - o frango está estufado
Impar - gemer continuamente; ex: o cão está a impar continuamente -  o cão esta a gemer continuamente
Incóspia – ordinária; ex: aquela mulher é uma incóspia - aquela mulher é uma ordinária
Ingrimanço - pessoa desluzida; ex: fiquei ingramanço com aquela pessoa - fiquei desiludida com aquela pessoa
Inté – até; ex.: Ele inté já lá entra  - Ele até já lá entra

J
Já pinta - cor da cereja; ex.: gosto da cor já pinta - gosto da cor cereja
Jabardo - sujo, porco; ex: o carro está jabardo - o carro está sujo
Jinela – janela; ex: hoje vou limpar a jinela - hoje vou limpar a janela

L
Lambada – chapada; ex: levas uma lambada - levas uma chapada
Lambão – comilão; ex: és um lambão - és um comilão
Lambisgóia - pessoa espantada; ex: ela ficou lambisgóia - ela ficou espantada
Lamuria – choramingueira ; ex.: não gosto de lamuri a - não gosto de choramingueira
Lanzeira - Cotão/fazenda; ex.: gosto de tecido de lanzeira - gosto de tecido de cotão
Lapacheiro - sujidade (lama/liquídos); ex.: isto tem lapacheiro - isto tem uma sujidade
Laréu – conversar; ex.: Ficou ao laréu  -  Ficou à conversa
Laurear – vadiar; ex: hoje vou laurear -  hoje vou vadiar
Lesma - escarro grande; ex: que lesma tão grande - que escarro tão grande
Leva Mécha - vai depressa; ex: a mota leva mecha - a mota vai depressa
Lêvedar – fermentar; ex: o pão está a levedar  - o pão esta a fermentar
Ligo – falo ; ex.: Não lhe ligo - Não lhe falo
Lixado – encravado; ex: o prego está lixado - o prego está encravado
Loijão - cave debaixo do sobrado; ex.: o meu prédio tem loijão  - o meu prédio tem cave
Lombeirão – Preguiçoso; ex: o gato é lombeirão - o gato é preguiçoso
Lôrpa – comilão; ex: es uma lorpa - és um comilão

M
Malcriado - mal educado; ex: que homem tão malcriado - que homem tão mal educado
Maldrácia – maldade; ex: isto é pura maldrácia - isto é pura maldade
Malhão – queda; ex.: Dei cá um malhão - Dei cá uma queda
Malina - mau cheiro; ex.: vem uma malina daquela casa - vem um mau cheiro daquela casa
Malões - malas grandes; ex.: levo dois malões- levo duas malas grandes
Maltez – rebelde; ex.: aquele miúdo é maltez - aquele miúdo é rebelde
Mardocarmo - Maria do Carmo; ex.: o nome dela é Mardocarmo - o nome dela é Maria Do Carmo
Marreco – pato; ex.: vou apanhar aquele marreco - vou apanhar aquele pato
Márronia - mau feitio; ex.: tu e o teu márronia - tu e o teu mau feitio
Martóla – cabeçudo; ex.: és mesmo martóla - és mesmo cabeçudo
Mê Filho - meu filho; ex.: este é o mê filho - este é o meu filho
Mecha – dinheiro; ex.: tou com falta de echa - tou com falta de dinheiro
Medrar – crescer; ex.: O teu filho está a medrar - O teu filho está a crescer
Meixão - papula na pele; ex.: tenho um meixão - tenho uma papula na pele
Meixo – Mocho; ex.: ontem a noite vi um meixo - ontem a noite vi um mocho
Meixões – fridas; ex.: estou cheia de meixões - estou cheia de fridas
Melena - cabeleira grande; ex.: tenho uma melena – tenho uma cabeleira
Mestrunço - mal feito; ex.: és mestrunço - és mal feito
Mexa – pressa; ex.: Vai com uma mexa - Vai com muita pressa
Miga – petisco; ex.: vamos a uma miga - vamos a um petisco
Migalho(a) - pequena porção; ex.: quero uma migalha - quero uma pequena porção
Miscaros – cogumelos; ex.: tens míscaros - tens cogumelos
Miúfa – medo; ex.: tenho miúfa – tenho medo
Mixordeiro – provocador; ex.: és uma mixordeira - és uma provocadora
Mocho - triste/calado; ex.: estás mocho - estás triste
Mocotó - mal arranjada; ex.: Estás uma mocotó - Estás uma mal arranjada
Moinante – vadio; ex.: és muito moinante -és muito vadio
Monco - ranho; ex.: tens monco - tens ranho
Mosca – jogo; ex.: vais à mosca – vais ao jogo
Mouca – surda; ex.: és mouca - és surda
Murça - cabelo grande; ex.: tens Murça – tens cabelo grande

N
Nalgadas - palmadas/nalgas; ex.: levas umas nalgadas - levas umas palmadas

O
Óculos - objectos de lata (jogar); ex.: vamos jogar aos óculos

Odepois – depois ; ex.: odepois vais - depois vais

P
Pacóvio - sem maldade; ex.: és uma pessoa pacóvia - és uma pessoa sem maldade
Pagem - amigo(a) companheiro(a); ex.: tens um pagem - tens um companheiro
Paleio – conversa; ex.: queres é paleio - queres é conversa
Palitos – fósforos; ex.: tens palitos - tens fósforos
Pão Miado - pão de centeio; ex.: quero um pão miado – quero um
Papalvo – parvo; ex.: és um palpavo – és um parvo
Passéu – passou; ex.: Inda agora por aqui passéu - Ainda agora por aqui passou
Pau de bico - jogo de pau; ex.: vamos jogar ao pau de bico – vamos jogar ao jogo do pau
Páz D´Alma – desinteressado; ex.: és um paz d’alma – és um desinteressado
Peisé - pois é; ex.: peisé, peisé – pois é, pois é
Pelanquim – varanda; ex.: vou á pelanquim – vou á varanda
Pelar - queimar/com água; ex.: Isto está a pelar-me - Isto está a queimar-me
Penca - nariz grande; ex.: tens cá uma penca – tens cá um nariz grande
Perdigoto - Salpicos de saliva; ex.: atiras-te perdigotos – atiras-te salpicos de saliva
Perrice - chorar muito/irritado; ex.: estou muito perrice – estou muito irritado
Pertelinho - muito perto; ex.: estou pertelinho – estou muito perto
Pessinar – benzer; ex.: tenho que me pessinar – tenho que me benzer
Peteirar - guerrilhar/brigar; ex.: não gosto de peteirar – não gosto de brigar
Pia abaixo - ir para baixo; ex.: Vou pia abaixo - Vou para baixo
Pia acima - ir para cima; ex.: Noutro dia ias pia cima - No outro dia ias para cima:
Picareto - gelo/bico aguçado; ex.: quero picareto – quero gelo
Pirísca - velocidade/rapidez; ex.: tens pirísca – tens rapidez
Pirralho – pequeno; ex.: é muito pirralho – é muito pequeno
Pirrolito - bebida (gasosa); ex.: quero um pirrolito – quero uma bebida gasosa
Pisco - comer pouco; ex.: vou comer pisco – vou comer pouco
Pitróleo – petróleo; ex.: quero uma garrafa de pitróleo – quero uma garrafa de petróleo
Poaceira – poeira; ex.: tenho uma poaceira no olho – tenho uma poeira no olho
Postigo - janela pequenina; ex.: tem um postigo – tem uma janela pequenina
Pugês - miúdo/pequeno; ex.: tenho um pugês – tenho um miúdo pequeno
Pujeca – vagina; ex.: as mulheres tem pujeca – as mulheres tem vagina

Q
Quêdo(a) - parado(a); ex.: Ficastes quêda ali a falar - Ficastes parada ali a falar
Queicho – coxo; ex.: fiquei queicho – fiquei coxo
Queisa – coisa; ex.: Ouve lá uma queisa - Ouve lá uma coisa Outra queisa - Outra coisa
Queizito – bocadito; ex.: quero um queizito – quero um bocadito
Quezilha - hábito/maneira/modo ex.:tenho um mau quezilho – tenho um mau hábito
Quilhado – prejudicado ; ex.:fui quilhado – fui prejudicado
Quinhão - porção/parte; ex.: Toma lá o teu quinhão - Toma lá a tua parte
Quinté - que até; ex.: Está uma ventania quinté mete medo - Está uma ventania que até mete medo

R
Rabadela - vento forte; ex.: amanham vai estar uma rabadela – amanham vai estar vento forte
Rabecada – raspanete; ex.: levas uma rabecada – levas um raspanete
Rabicho – rabo; ex.: aquele gato tem um rabicho – aquele gato tem um rabo
Rapa barbas - vento gelado; ex.: está um rapa barbas – está um vento gelado
Raro – espaçado; ex.: o meu carro esta raro em relação ao teu – o meu carro está espaçado em relação ao teu
Rebisco - jogo de esconder; ex.: vamos jogar ao rebisco – vamos jogar ao jogo de esconder
Relêgo - calma, cuidado; ex.: vai com relego – vai com cuidado
Rendizio - arco de peneu e ferro; ex.: o teu carro tem rendizio – o teu carro tem pneu e ferro
Respigo - pedaço de cacho de uvas; ex.: queres um respigo – queres um cacho de uvas
Rêspo.-.; ex.: Cheira ao rêspo de gato - Cheira a excremento de gato
Rilhar - trincar carne dura; ex.: o meu cão rilha – o meu cão trinca carne dura
Ripote - gato preto; ex.: tenho um ripote – tenho um gato preto
Roçar - esfregar o chão; ex.: vou roçar – vou esfregar o chão

S
Saibete - sabor ligeir; ex.: isto está com saibete – isto está com um sabor ligeiro
Salsear – sujar; ex.: vais te salsear – vais-te sujar
Sassericar - não estar quieto; ex.: esta criança sasserica – esta criança não pára de estar quieto
Selamurdo – calado; ex.: és muito selamurdo – és muito calado
Sertã – frigideira; ex.: esta sertã está suja – esta frigideira está suja
Solapada - admirada/surpreendida; ex.: estou solapada – estou admirada
Soltura – diarreia; ex.: O menino tem soltura - O menino tem diarreia
Sumisso – desaparecimento; ex.: deste um sumisso no cão – deste um desaparecimento no cão

T
Taleiga - saca de pano; ex.: tens uma taleiga – tens uma saca de pano
Talisca - buraco na parede; ex.: ficou uma talisca -
Tareca - esperta/faladora; ex.: É uma tareca da praça - É uma faladora da praça
Tarrela - limpeza mais apurada; ex.: vou fazer uma tarrela – vou fazer uma limpeza mais apurada
Tarrisada – risada; ex.: Foi uma tarrisada - Foi uma risada
Teituçada – tropeçada; ex.: deste uma teituçada – deste uma tropeçada
Tepetada - bater no pedra (descalço); ex.: ficas-te tepetada – ficas-te descalça
Testo - tampa/panela; ex.: tira o testo da panela – tira a tampa da panela
Tezicar – arreliar; ex.: não vale a pena tezicar – não vale apena arreliar
Tísica - magra/doente; ex.: estás muito tísica – estás muito magra
Trambêlo – juízo; ex.: não tem trambelo – não tem juízo
Trambolho - mal feito (a); ex.: aquela pessoa  é um trambolho – aquela pessoa é mal feita
Tramenho - solução/geito; ex.: É todo airoso - É todo simpático
Trampa – excremento ; ex.: não pises a trampa- não pises o excremento
Trelecas - conchas, conquilhas; ex.: na praia á trelecas – na praia á conchas ou conquilhas
Treletar - Falar muito; ex.: gosta muito de treletar – gostas muito de falar
Trelincar - som das campainhas; ex.: não gosto de trelincar – não gosto do som das campainhas
Trêpelos – grelos; ex.: um molho de trêpelos – um molho de grelos
Trigamilho - pão de trigo; ex.: quero um trigamilho – quero um pão de trigo
Trilhar – comer; ex.: vou trilhar - vou comer
Trinque - chaves da porta; ex.: esqueci-me do trinque – esqueci-me das chaves da porta
Troca Tintas – trapalhão; ex.: sou um troca tintas – sou um trapalhão
Troncamaronca - à toa; ex.: ando à troncamaronca – ando à toa
Trôpesso - andar com dificuldade; ex.: tenho um trôpesso - tenho dificuldade

U
Umbela - chapéu (chuva/sol); ex.: tens uma umbela - tens um chapéu de chuva

V
Velar – Adorar; ex.: vou velar - vou adorar
Veneta – fúria; ex.: estou com uma veneta – estou com uma fúria
Vendes - ; ex.: Vendes lá vós - Vejam lá vós -
Ventaneira - vento forte; ex.: tá uma ventaneira - tá um vento forte

X
Xé-xé – maluco; ex.: estás xé-xé - estás maluco
Xi Coração - abraço forte; ex.: dá-me um xi coração-dá-me um abraço forte

Tradições Musicais da Estremadura: O Amor e o divertimento


Os Bailes Tradicionais

Povo que trabalha e que reza, povo que ama, que folga e se diverte. Após garantir o sustento, após orar e agradecer à divindade, o rural dá largas ao seu ludismo, expande os seus impulsos amorosos, entrega-se à diversão e à folia. Referimo-nos agora já não à festa institucional, quase sempre religiosa, (...) mas fundamentalmente à diversão do dia-a-dia, dos pequenos acontecimentos locais e particularmente aos bailes e às danças populares. Este tipo de bailes ocorre quase sempre também nas romarias, mas o fenómeno, por ser mais vasto, justifica um tratamento especial.



Figuras Típicas de Lisboa - Varina e Varino

Muito embora tenham vindo de outras regiões para a capital em busca de melhor vida, as varinas são, sem dúvida, uma das figuras típicas de Lisboa. De canastra à cabeça percorriam os populares bairros lisboetas, vendendo de porta em porta o marisco. O seu traje é perfeitamente adaptado à sua função, blusa de algodão, saia ampla e comprida e avental de riscas. Para segurar a saia, adaptando a sua altura, ou o ventre, quando grávida, usa em volta das ancas uma faixa de fazenda. Na cabeça, um lenço de fazenda de lã e chapéu de feltro de aba pequena e revirada para cima, de forma a aparar os pingos que caiem da canastra. Nos pés, normalmente descalços, usa socas de madeira e carneira preta.
De inverno usa, pelas costas, um xaile de lã espesso que cruza no peito e amarra nas costas, de forma a permitir a mobilidade dos braços.

O varino provém de regiões costeiras a norte do Mondego. Alguns investigadores, identificam a sua origem na região de Ovar. Chegavam à foz do Tejo sazonalmente à pesca do sável, quando a faina terminava regressavam habitualmente às suas terras. No entanto, muitos foram-se fixando em Lisboa, em bairros como a Madragoa e Alfama, ou junto ao rio, constituindo várias comunidades piscatórias. No entanto, na foz do Tejo, estes homens dividem-se entre a pesca e o transporte de mercadorias entre as duas margens.
O seu traje é constituído por camisa de algodão e calças de pano-cru, largas, de forma a poderem ser arregaçadas. Usa camisola de lã grossa, trabalhada pelas hábeis mãos femininas, e faixa preta na cintura. Na cabeça, para proteger das intempéries ou do sol, um barrete de lã, neste caso preto. No tempo frio, o varino vestia um capote de Saragoça, comprido e com gola larga ou capuz. Nos pés, sempre descalços no mar, usavam em terra socas de madeira e carneira. Estes homens eram ainda populares nas tabernas junto ao cais ou nos seus bairros, pelas capacidades vocais, nomeadamente, no fado, que cantavam e tocavam primorosamente.

Estremadura


Instituída em 1936 como província portuguesa e desaparecida administrativamente como tal em 1976, a região da Estremadura ocupa uma faixa litoral no centro do território e compreende concelhos dos distritos de Leiria, Lisboa e Setúbal. É banhada pelo oceano Atlântico a Oeste, e confina com as regiões da Beira Litoral a Norte, do Ribatejo a Leste, do Alto Alentejo a Sudeste, e do Baixo Alentejo a Sul. A Estremadura abrange uma área de 5345 km2 e compreende 31 concelhos: 8 do distrito de Leiria, 14 do distrito de Lisboa e 9 do distrito de Setúbal. Sendo a faixa de terreno situada a norte e a sul do estuário do Tejo, constitui a parte mais ocidental do território continental português. Nesta região, situa-se Lisboa, a capital do País.

A actividade humana em volta de Lisboa domina todo o conjunto, enquanto centro cultural, político e comercial do país. Aí se destaca também o seu importante porto, e para aí convergem todas as estradas nacionais e as grandes vias internacionais.
Com fáceis comunicações, a Estremadura alimenta uma grande parte da economia, onde concorrem as produções locais, nacionais e até mesmo internacionais. Em Lisboa e nos seus arredores, concentram-se importantes núcleos económicos de todos os géneros: metalurgias, construção naval, têxteis, produtos alimentares, pescas, produtos químicos, etc. A capital possui uma enorme variedade de empresas e constitui também o maior centro de serviços.
É ainda aqui que se estende a zona de mais intensa actividade turística. Não se limitando aos centros mais conhecidos, distribui-se por um elevado número de pequenas povoações que são o grande refúgio de muita população do País. Nenhuma outra zona portuguesa avulta no turismo nacional como a Estremadura. Para isso concorrem os seus monumentos e museus, e a facilidade das suas comunicações.
À sua extrema variedade de paisagem e de terreno corresponde também uma variedade de culturas, hábitos e costumes, que se pode observar no seio da população.
A Estremadura apresenta, nos seus principais pratos típicos, a caldeirada de sardinhas, as favas, as pataniscas de bacalhau e as amêijoas à Bulhão Pato; várias receitas de bifes e de coelho; os pastéis de Belém e de feijão, o pão-de-ló, entre outros.
Nesta região, as romarias podem não ter a vivacidade e os tons alegres das romarias nortenhas, mas reúnem grandes multidões. A tourada é um elemento habitual dessas festas. Na periferia de Lisboa realizam-se algumas das mais concorridas festas de Portugal, parte delas caracterizadas por um cerimonial de trajes.
Muitas foram as individualidades que daqui deixaram o seu nome ligado à História portuguesa, na vida militar, na literatura, na arte, na política, etc. Lisboa sobressai pelo número e qualidade dessas individualidades, dado que é de há muito o maior centro populacional, dotado de condições excepcionais.

A Estremadura é uma antiga comarca portuguesa estabelecida na Idade Média e extinta no século XIX, devendo o seu nome derivar do latim Extrema Durii (extremos do Douro), por designar os territórios adquiridos, na sequência da Reconquista cristã, para Sul do Douro (tal é, de resto, também a origem etimológica do nome da região espanhola da Estremadura); com a progressão da reconquista para Sul, a noção de Estremadura, como terra de fronteira, foi também alargando-se, de tal forma que, no século XV, a Estremadura correspondia, grosso modo, aos modernos distritos de Aveiro, Coimbra, Leiria, Lisboa, Santarém e Setúbal. Ao longo da história os limites da Estremadura foram muitas vezes alterados; quando foi extinta, no século XIX, os seus limites correspondiam, grosso modo, aos actuais distritos de Lisboa, Leiria e Santarém.

Na reforma administrativa havida em 1936 foi novamente criada uma Província (ou região natural) da Estremadura. Esta nova província, contudo, englobava apenas uma fracção do território da antiga comarca homónima. Parte do território da antiga Estremadura ficou incorporada nas novas províncias do Ribatejo e Beira Litoral. Por outro lado, a nova Estremadura incluiu parte do actual Distrito de Setúbal que tradicionalmente pertencia à antiga província do Alentejo.

No entanto, as províncias de 1936 não tiveram praticamente qualquer atribuição prática, e desapareceram do vocabulário administrativo (ainda que não do vocabulário quotidiano dos portugueses) com a entrada em vigor da Constituição de 1976.

Fazia fronteira a Nordeste com a Beira Litoral, a Este com o Ribatejo e o Alto Alentejo, a Sul com o Baixo Alentejo e o Oceano Atlântico e a Oeste também com o Atlântico.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Frases típicas da Estremadura


Quem não viu Lisboa, não viu coisa boa.
A conselho amigo, não feches o postigo.
A falta do amigo há-de-se conhecer mas não aborrecer.
Amigo deligente, é melhor que parente.
Amigo disfarçado, inimigo dobrado.
Amigo que não presta e faca que não corta: que se percam, pouco importa.
Amigo verdadeiro vale mais do que dinheiro.
Amigo, vinho e azeite o mais antigo.
Amigos, amigos, negócios à parte.
Ao bom amigo, com teu pão e teu vinho.
Ao rico mil amigos se deparam, ao pobre seus irmãos o desamparam.
Aquele que me tira do perigo, é meu amigo.
As boas contas fazem os bons amigos.
Bocado comido não faz amigo.
Defeitos do meu amigo, lamento mas não maldigo.
Em tempo de Figos, não há amigos.
Muitos conhecidos, poucos amigos.
Não há maior amigo do que Julho com seu trigo.
No aperto do perigo, conhece-se o amigo.
O Vinho e o Amigo, do mais antigo.
Os amigos são para as ocasiões.
Quem não tem marido, não tem amigo.
Quem seu amigo quiser conservar, com ele não há-de negociar.
Quem te avisa, teu amigo é.
Quem tem amigos, não morre na cadeia.
Um rico avarento, não tem amigo nem parente.
A vaidade é o espelho dos tolos.
Ao bêbado e ao tolo, dá-se o caminho todo.
Com papas e bolos se enganam os tolos.
Quem deixa o certo pelo incerto, ou é tolo ou pouco esperto.
Quem não se ri ao mês, ou é tolo ou quem o fez.
Quem parte e reparte e fica com a pior parte, ou é tolo ou não tem arte.